Em reportagem do Jornal do Commercio desde domingo (28), sobre o relançamento de um disco de Waldick Soriano, um dos cantores mais populares que o Brasil já teve, o jornalista José Teles, conta alguns episódios em que Waldick Soriano se envolveu em confusões por causa da música Eu Não Sou Cachorro Não de 1972, quando o cantor namorou com a socialite Beki Klabin e virou bibelô de madame rica no Rio e São Paulo. Elas se divertiam com ele, e ele riu por último de tudo e de todas. Num show na Flag, requintada casa noturna de Ricardo Amaral, na Zona Sul carioca, cantou sem camisa, foi beijado e agarrado pelas mulheres mais chiques do Rio. Quis ir aos finalmente, em cima de uma mesa da boate, com uma fã mais afoita que lhe sapecou um beijo na boca. Malandro, ele se comportava como a esnobe elite carioca imaginava que ele fosse. Para estes novos admiradores fez Eu Não Sou Cachorro Não, canção de cafonice exagerada. Passou a ser sucesso em todas as classes sociais. No entanto se tornou refém da música, obrigado a cantá-la em todos as apresentações.
A apelativa Eu Não Sou Cachorro Não tornou-se mote para provocadores Brasil afora. Entre os barracos narrados pela reportagem , está um ocorrido em Sertânia, no interior pernambucano, quando Waldick Soriano adentrou o palco calibrado de cachaça, sua bebida predileta. A plateia irrompeu numa vaia homérica aos primeiros acordes de Eu Não Sou Cachorro Não. Se vaias em festivais incentivaram artista a quebrar violão, estas levaram Waldick a querer quebrar cara dos que o apupavam. Acabou passando um dia na cadeia da cidade, coberto de hematomas que ganhou na refrega desigual.
Outras confusões
Numa boate em Manaus, soltaram um cachorro no palco com uma plaqueta onde se lia “Eu Não Sou Waldick Não”. O cantor largou o microfone e para tomar satisfações com os autores da brincadeira. Em Juazeiro do Norte (CE), um cão com o cartaz “Eu Não Sou Valdick Não, provocou a ira do cantor, que interrompeu o show na Praça João Cornélio, no Centro da Cidade, distribuindo sopapos entre os adultos e cachaça (sic) para as crianças.
A música rendeu confusões variadas quando estava nas paradas nacionais. Em 1973, num baile de Carnaval, no Sport Clube Recife, o maestro Erlon Chaves e a Banda Veneno, levaram uma sonora vaia quando tocaram Eu Não Sou Cachorro Não. No mesmo ano, um bancário de Limoeiro (PE), no meio de uma farra no Bar da Madrugada, no Pina, desfechou dois tiros na radiola de fichas, que tocava o sucesso de Waldick. A música chegou à literatura de cordel, em folhetos como A Briga dos Cachorros com Waldick Soriano, de José Soares, ou Discussão de Um Cachorro com Waldick Soriano, de Manuel Morais: “Disse o cachorro a Waldick/pode chamar a imprensa/que eu com você agora/tenho uma questão imensa/você está enganado/não sou o que você pensa”.