A questão da polarização entre os presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) e a escalada da violência precisa ser vista com cuidado não apenas pelos dois candidatos, mas também pelos políticos eleitos, uma vez que o país ainda não chegou na barbárie em si, mas o que é uma ameaça hoje pode se concretizar em breve. O alerta foi feito pelo consultor de mídias e autor do blogo Ordem do Dia, o jornalista Sérgio Montenegro. Em sua avaliação, as pessoas estão se sentindo autorizadas a cometer violência. %u201CSe elas forem incitadas realmente vamos cair na barbárie. Não digo a sociedade como um todo, mas parte dela vai se sentir intimidada por aquele percentual que comete isso, comentou.
Em sua avaliação, de um lado há um candidato pacifista (Haddad), porém na bagagem do petista há um histórico de corrupção de seu partido. Do outro lado está um candidato de face de extrema direita (Jair Bolsonaro) que prega a violência como sendo uma solução. A pessoa não quer saber se Haddad é ou não corrupto, mas que o partido dele provocou um dano ao erário brasileiro e aí se recusa a dar um crédito de confiança. Bolsonaro tem histórico antigo de estímulo à Lei do Talião (olho por olho, dente por dente). Isso não é de agora. Ele aproveitou o filão da insatisfação do brasileiro, soube resgatar essa questão e sabe manipular o sentimento das pessoas. Só que quando se faz um refino disso, o que sobra é o ódio político. O que Bolsonaro faz em palavras seus seguidores fazem em atos, destacou.
Inicialmente Bolsonaro não se preocupou em apaziguar os ânimos. Peço ao pessoal que não pratique isso (violência), mas não tenho controle sobre milhões e milhões de brasileiros que me apoiam. Está um clima acirrado, mas são casos isolados, que a gente lamenta que ocorra, disse o candidato do PSL. Mas diante da proliferação de casos de violência no país e a repercussão negativa, o candidato do PSL mudou o discurso. Dispensamos votos e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim, tuitou o candidato.
Para o pesquisador Fulbright na Tulane University (EUA) e professor da Universidade Católica (Unicap), Juliano Domingues, o embate político deve se dar sempre no campo das ideias, do discurso civilizado.Entretanto, a cultura do autoritarismo coloca barreiras à efetivação desse tipo de cenário. A vítima de violência deve denunciar às autoridades e cobrar punição. E o Estado precisa agir, independentemente do viés da militância. Caso contrário, a violência em função da disputa política passa a ser uma mera questão de custo-benefício. Se determinado grupo político agride seus adversários e nada é feito pelas autoridades, isso gera incentivos a novos episódios. Os casos relatados reforçam o quanto nossa democracia é frágil, enfatizou.