Ênio Marcondes Ferreira de Brito, 11 anos, viajou 265 km de Itapetim, no Sertão de Pernambuco, para visitar parentes e passar as férias no litoral. Retornaria para casa no fim do mês, não fosse um fio de baixa tensão na Rua Irã, no Loteamento Conceição, em Pau Amarelo, Paulista. Logo após o incidente, segundo testemunhas, um carro da Celpe, que havia sido chamado pela manhã para retirar o fio da rua, chegou ao local, algumas horas depois que expiraram os 30 minutos prometidos ao telefone.
O garoto pisou na fiação, que havia caído pela terceira vez, segundo vizinhos, e sofreu uma descarga elétrica. Ele chegou a ser socorrido para uma UPA, mas morreu. Ênio foi a primeira vítima deste ano de um problema evidenciado em junho 2013, após a morte do advogado e músico Davi Santiago, que levou um choque em Boa Viagem. Nos últimos três anos, o contato com fios em áreas públicas de Pernambuco causou cerca de 60 mortes, mais do que o número de fatalidades causadas por ataques de tubarão desde 1992, por exemplo.
Ênio estava na casa de parentes, no início da tarde de ontem, quando atendeu ao chamado da avó, Inês Ferreira, com quem vivia desde o primeiro ano de vida no interior, e foi a um comércio próximo comprar materiais de limpeza. “Ele vinha correndo, quando pisou nas poças formadas pela chuva. De repente, o fio o puxou e ele desmaiou”, contou a dona de casa Rosineide Maria, que viu o acidente.
“Não é a primeira vez que esse fio cai. Há 15 dias, nossa comunidade fechou a PE-22 cobrando uma providência da Celpe. Eles consertaram, mas depois o objeto caiu novamente e não vieram”, contou o vigilante Paulo Ferreira. Com o choque, Ênio sofreu queimaduras na face, nas pernas e em parte dos órgãos. Ele ainda tentou ser reanimado por cerca de uma hora, mas não resistiu aos ferimentos.
A avó da vítima chegou com ele a Paulista em 17 de dezembro. “Pedi para ele sair de casa e me ajudar. De repente, ouvi um barulho, perguntei o que havia acontecido e soube que meu neto havia caído”, contou, chorando. Até o fechamento desta edição, a família aguardava a chegada da mãe do garoto para decidir o local do enterro, que deve ocorrer em Itapetim.
Em nota, a Celpe lamentou o acidente e afirmou que o fio que atingiu Ênio estava partido em decorrência de uma ligação clandestina. O órgão garantiu que “as equipes técnicas estão apurando em detalhes o ocorrido” e que “a empresa está prestando toda assistência à família”. Por ano, cerca de 36 mil ligações clandestinas são removidas apenas na cidade do Recife.
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