Confira o discurso de transmissão de cargo de Eduardo

Há cinquenta anos, em 1º de abril de 1964, o Governador Miguel Arraes deixava este Palácio sob escolta militar, em direção à prisão e depois ao exílio, por se recusar a renunciar ao mandato que lhe fora outorgado pelo voto democrático dos pernambucanos.

Arraes saiu pela porta da frente e por ela voltou mais duas vezes, nos braços do povo, que com alegria lhe devolveu o mandato que tentara lhe usurpar o arbítrio.

Hoje, depois de dois mandatos, deixo o Palácio do Campo das Princesas pela mesma porta da frente, rumo a novas lutas a que me levam compromissos sociais, históricos e políticos.

Peço permissão para relembrar trecho do discurso que proferi ao assumir, pela primeira vez, o Governo do Estado, em 1º de janeiro de 2007: “Vamos construir um tempo novo, em que os que sempre perderam vão começar a ganhar. Um tempo em que as vítimas não serão mais culpadas. Um tempo em que a indignação seja a ferramenta para enfrentar a pobreza, a miséria, a violência e a exclusão”.

Busquei honrar esses compromissos, empenhando neles todas as minhas forças, com o apoio de uma equipe de servidores públicos dedicada e leal; dos Poderes Legislativo e Judiciário; do Ministério Público e do Tribunal de Contas; do Governo Federal e dos governos municipais; dos partidos aliados; dos movimentos sociais; dos trabalhadores; dos empresários e da Imprensa. E, principalmente, com o apoio do povo de Pernambuco, que nunca permitiu que fraquejássemos e deixássemos estreitar os caminhos da mudança.

Com unidade e determinação tentamos fazer o que mostrava-se o mais necessário, mobilizando para tanto todos os de boa vontade e tornando assim possível o que parecia irrealizável.

O trabalho muitas vezes me furtou do convívio familiar, embora minha família tenha sempre participado ativamente de toda minha trajetória política. Registro, com emoção, o meu agradecimento, pelo apoio e compreensão, a Renata, Maria Eduarda, João, Pedro, José, Miguel, Ana, Antônio e à minha avó Madalena, em nome de toda a família.

Ao meu lado, nos bons e nos maus momentos, sempre o Vice-Governador João Lyra Neto, que hoje assume a condução do Governo do Estado. Sua experiência administrativa e seu descortino foram valiosos para todos nós e asseguram a preservação e ampliação de tudo que até agora construímos juntos.

Nosso Governo lega aos pernambucanos um Estado melhor para se viver. Renovou-se a autoestima coletiva; revitalizou-se a atividade econômica; reduziu-se a desigualdade social.

Pernambuco cresceu a índices superiores aos do Nordeste e aos do Brasil, a partir de um modelo de gestão reconhecido nacional e internacionalmente e premiado pelas Nações Unidas.

A atração de grandes empreendimentos industriais estruturadores abre para o Estado a inserção competitiva nos mercados internacionais, moldando um novo patamar para o futuro. Iniciativas no campo social, como o Pacto Pela Vida; os novos hospitais públicos e as UPA’s; a multiplicação das escolas públicas de referência; os investimentos nos transportes, no saneamento e no abastecimento d’água são marcas que ficam e justificam, neste momento, o sentimento – que é de todos – do compromisso cumprido.

Avançamos no mundo rural, junto com as representações dos trabalhadores do campo, desenvolvendo projetos de acessos rodoviários, fornecimento d’água, de energia elétrica e sementes, formação de mão de obra e de combate ao desemprego, ao lado de ações de regularização fundiária.

Outras marcas são igualmente importantes, como a interiorização de projetos culturais; a atração de grandes eventos artísticos, esportivos e empresariais; a transparência dos atos do Governo do Estado; a ampliação de recursos para as áreas de ciência, tecnologia e meio ambiente e as novas políticas de gênero.

Senhoras e Senhores.

A memorável história das lutas libertárias de Pernambuco nos transformou em um povo altivo, que nunca hesitou em bater-se por suas convicções em episódios como a Revolução Pernambucana, de 1817; a Confederação do Equador, de 1824 e a Revolução Praieira, de 1848.

Espírito de justiça também presente nas reivindicações dos trabalhadores nas primeiras décadas do século passado; nas Ligas Camponesas; na Frente Popular liderada por Miguel Arraes e Pelópidas Silveira e na resistência à ditadura militar.

Luta esta em que tantos foram presos, torturados, exilados e assassinados, para que pudéssemos estar aqui hoje, nesta solenidade democrática, cinquenta anos depois do Golpe. Mas de forma alguma é o desejo de revanche que me faz recordar. Esses fatos pertencem à História, embora seja dever relembrar – especialmente aos mais jovens – que no dia 1º de abril de 1964 a Praça da República, onde agora estamos, amanheceu tomada por tropas e tanques e um governador foi preso por se recusar a desonrar o mandato que lhe fora outorgado pelo povo pernambucano.

Senhoras e Senhores.

Temos outras questões à frente. O Brasil depara-se com o sentimento de que o ciclo de modernização econômica e social precisa se renovar. Percebe-se um desejo forte por um salto de qualidade na vida nacional. Há um sentimento generalizado de que o País, depois de um período de avanços sociais e econômicos, parou de melhorar. Perdeu terreno não apenas em relação aos BRICS (Índia, Rússia, China e África do Sul), como também na comparação com outros países da América do Sul – que continuam a crescer apesar da crise.

Queremos voltar a crescer, preservando as conquistas até aqui asseguradas – mas que não bastam. Deixou isso evidente a juventude que foi às ruas no ano passado e expressou demandas fundamentais, de quem sabe estar apenas no limiar da cidadania plena.

Manifestou a juventude o desejo de melhoria da qualidade de vida, por meio da crítica aos serviços de transporte, de segurança, saúde e educação. Demonstrou sua inquietação com os descaminhos da economia e o recrudescimento da inflação. As ruas foram inequívocas na rejeição à corrupção e escancararam a urgente necessidade de profundas mudanças nas instituições e nas práticas políticas.

Para tanto, é prioritário superar a velha política do clientelismo, do abuso do poder econômico e das superadas disputas personalistas que obstruem o diálogo e o reconhecimento dos pontos de vista dos adversários.

Há um clamor coletivo por novas respostas. São as demandas de quem não se contenta meramente em sair da linha da pobreza. O desafio para o ciclo que se abre é o de interpretar e solucionar estas demandas.

Os brasileiros têm o direito de contar, em todas as instâncias da administração pública, com instrumentos e serviços capazes de encaminhar suas pendências e atender suas necessidades. Com soluções simples e eficientes, que aproximem o povo do Estado, em respeito à população e aos deveres dos governantes.

Uma economia mais produtiva e competitiva requer direção estratégica, com argumentos sólidos e planejamento, a fim de afastar as incertezas que hoje adormecem a disposição ao investimento, seja público, privado interno ou o investimento direto estrangeiro.

O País precisa voltar a ser pensado em uma perspectiva de longo prazo, como já foi em décadas passadas. Para tanto, não basta a tecnocracia oficial. É um trabalho que reunirá todos que, de alguma maneira, possam contribuir, nas organizações sociais, nas representações de classe, nas universidades e instituições de pesquisa.

É necessário fundar um novo pacto social e político, baseado na nova realidade do Brasil. Pactos houve para vencer o regime autoritário; extinguir a hiperinflação e estabilizar a economia. Pacto houve para assegurar melhor distribuição da riqueza entre os mais pobres.

No entanto, agora o País reivindica mais do que uma nova agenda. O País movimenta-se, orientado por claros compromissos progressistas e inovadores da prática política, movimento capaz de animar o nosso povo para o desafio da construção de um novo tempo – que vai além do equilíbrio econômico e de uma divisão de renda mais justa. O Brasil precisa e quer a união dos brasileiros. E se Pernambuco se uniu, o Brasil também irá se unir.

Há poucos meses, ao lado de Marina Silva, tivemos a honra de propor essa nova agenda, documento que encontra-se em discussão em diversos círculos. O mais amplo debate é imprescindível porque a construção dessa nova agenda não é tarefa apenas de um grupo de pessoas ou de um conjunto de partidos políticos. Deve ser – e será – resultado da reflexão e da decisão dos brasileiros.

Sabemos que podemos fazer mais, com mais eficiência e rapidez, balizados por cinco grandes eixos: o aprofundamento das relações democráticas; o desenvolvimento sustentável; massivos investimentos na educação, inovação e cultura; em programas para melhor qualidade de vida e em um novo urbanismo, voltado para o renascimento das grandes cidades, incluindo com destaque o combate à violência.

Cumprir esta agenda é um desafio, não uma impossibilidade. E os desafios se vencem com coragem, determinação e união. Já celebramos acordos em torno de outros pactos e cumprimos outras agendas no passado. Seremos capazes de vencer agora as novas metas. E mais possível e rápida será esta vitória quanto mais coesão houver em torno de um outro pacto – o Pacto Federativo – que estabeleça as responsabilidades de todos os Poderes, em todos os níveis, na consolidação da nova agenda.

Senhoras e Senhores.

Sei que Pernambuco novamente vai ajudar o Brasil a encontrar novos caminhos. É a solidariedade pernambucana, sua capacidade de luta e de paz, que nos impele ao desafio de levar aos brasileiros as imensas potencialidades que aqui se realizaram nesses dois períodos de Governo.

Saio do Governo do Estado com a esperança revigorada. A esperança de um Brasil democrático; com educação de qualidade para todos; generoso com as diferenças; mais equilibrado regional e socialmente, que cuide do nosso maior patrimônio humano: um povo diversificado em sua expressão cultural e consciente do nosso patrimônio natural.

Levo comigo antigas e sábias lições, transmitidas pelo meu avô, Miguel Arraes. Dele aprendi o essencial para a vida pública: a defesa da democracia, da soberania nacional, a crença na organização popular e o compromisso com os excluídos.

Fui, em todos esses anos, como meu pai Maximiano Campos me ensinou, servo do ideal e do sonho. Os mesmos ideais e os mesmos sonhos que agora impulsionam a caminhada iniciada hoje, com os pés no chão e os olhos no futuro, atento ao que anunciou o pernambucano Gilberto Freyre:

Eu ouço as vozes
Eu vejo as cores
Eu sinto os passos
De outro Brasil que vem aí
Mais justo
Mais equilibrado
Mais brasileiro.

Muito obrigado.

Assessoria de Comunicação Social do Governo de Pernambuco

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