Ser jogador de futebol sempre foi o sonho do estudante Adriano Lopes, 17 anos, morador de Arcoverde, no Sertão. Há quatro meses, durante uma partida com amigos, foi observado por pessoas que demonstraram interesse nas habilidades dele com a bola. Surgiu o convite para ingressar em um time do Recife, logo aceito. Com as altas despesas devido às viagens à capital, decidiu, há 15 dias, morar na casa de um amigo da família. No último sábado, veio a surpresa. Por telefone, Adriano informou que havia viajado para o Rio de Janeiro e que seguiria para o Catar, no Oriente Médio, onde realizaria o sonho. Horas depois, ligou de novo, chorando, dizendo que havia sido levado para uma mata e que iria para o exterior em um avião clandestino. Ontem à noite, Maria de Fátima recebeu nova ligação do filho. “Ele contou, nervoso, que embarcaria num avião clandestino para Istambul, na Turquia. Pediu minha ajuda”. A polícia investiga se ele foi vítima de tráfico internacional de pessoas.
Ontem, a dona de casa Maria de Fátima Lopes, 61, prestou queixa no Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). Ela contou que havia autorizado o filho a treinar porque um “contrato” dizia que ele iria para o time de juniores do Sport Club do Recife. Após o garoto viajar, ela percebeu que todos haviam caído num golpe. O amigo que vivia com o estudante relatou que, na semana passada, achou estranho o fato dele receber R$ 3 mil e depois mais R$ 1,8 mil. “Ele fez vários exames cardiológicos e muitas compras na quinta-feira, mas ele nunca contou que iria embora daqui”.
No fim de semana, o mesmo amigo conseguiu contato com o garoto pelo Facebook, supostamente sem que ninguém soubesse. “Ele disse que achava que havia sido levado para a Floresta da Tijuca, no Rio. Estava com outros dois adolescentes, com medo e dizendo que teria sido enganado”. O que chamou atenção é que, apesar de dizer que estava no Rio, a rede social identificava a origem das mensagens como sendo de Cascavel, no Paraná.
Em outra conversa, o homem que estava com o garoto interveio e afirmou que gastou R$ 30 mil para tirar ele do país e que se tratava de “contrabando de jogadores”. Pediu que parassem de interferir para que o adolescente não desistisse da viagem, pois iria ganhar muito dinheiro.
O delegado Geraldo da Costa informou que um ofício foi entregue à Polícia Federal para que impeça a saída do adolescente do país, ou informe se isso já aconteceu. “Como se trata de tráfico internacional de adolescentes, poderemos repassar as investigações à PF”. O coordenador da base do Sport, Ademar Coelho, garantiu que o garoto nunca fez parte do time. Ele encaminhou cópia do contrato falso ao departamento jurídico do clube.
DP