O estufador José Roberto Lima Souza, 30 anos, pensou que iria morrer junto com a esposa e as duas filhas neste último fim de semana. A família dele é uma das mais de 100 que foram atingidas pelas fortes chuvas ocorridas na cidade de Serra Talhada, no Sertão do estado, na noite do sábado. O rastro de destruição deixado pelas águas ainda é forte em bairros como Ipsep, Cohab, São Cristóvão e Centro. O medo enfrentado pela população de mais de 100 mil moradores da cidade pode voltar a se confirmar nos próximos dias. Segundo o prefeito da cidade, Luciano Duque (PT), que decretou situação de emergência no município por 90 dias, a previsão é de mais chuvas ainda para esta semana.
“Moro aqui há quatro anos e nunca havia passado por uma situação dessas. Além das fortes chuvas, um muro no fundo do terreno acabou caindo e quebrando a caixa d’água de mil litros. Uma grande quantidade de água entrou em casa. Perdemos quase tudo. Fui obrigado a arrombar a porta para eu e minha família escaparmos. Até agora, só tive ajuda de parentes e vizinhos”, lamentou Roberto, que ontem ainda limpava a casa com a esposa Valquíria de Souza Silva, 34. Em visita aos bairros mais afetados, encontramos uma equipe da Secretaria de Saúde. Os profissionais estavam visitando as famílias e as encaminhando aos postos de saúde para serem atendidas, medicadas e vacinadas contra possíveis doenças trazidas pela enxurrada.
A dona de casa Carla Keila Ferreira da Silva, 30, aproveitou um carro-pipa disponibilizado pela prefeitura para lavar a casa e colocar as coisas em ordem. “Moramos aqui eu, meu marido e três filhos. Na hora da chuva, meu esposo não estava em casa. Foi uma agonia. Perdi dois colchões, som, DVD e muitas outras coisas. Sempre que chove, passa água por aqui, mas nunca tinha sido desse jeito”, relatou. A jovem Joseane Silva Nogueira, 18, descansava na rede de casa ontem com seu bebê de apenas três meses. As camas foram destruídas pelas águas. “Perdemos roupas, comidas e o muro do quintal desabou. Foi muita água”, ressaltou.
Moradora do bairro do Ipsep há 15 anos, a aposentada Rosa Maria da Silva, 62, resolveu se precaver contra a invasão da água e construiu uma mureta de proteção em sua porta. “Fiz isso para evitar que a água invada tudo e destrua as minhas coisas. Vi o desespero das pessoas daqui de perto”, contou. De acordo com o secretário-adjunto de saúde de Serra Talhada, Aron de Araújo, o levantamento das famílias está sendo feito e todas as pessoas orientadas a procurar o Posto de Saúde da Família (PSF). O casal Ronie Celestino de Lima, 25, e Maria das Graças Ferraz, 33, também viveu momentos de desespero na noite do sábado. “A força da água era tão grande que a gente ficou preso dentro de casa. Precisamos juntar forças para abrir a porta e escapar”, revelou Ronie.
De acordo com o prefeito Luciano Duque, que ontem esteve reunido com técnicos da Defesa Civil de Pernambuco, a possibilidade de mais ocorrências de chuvas fortes na cidade é grande. “Recebemos informações da previsão do Lamepe e da Apac de que ainda nesta semana haverá mais chuvas na cidade. Estamos trabalhando para atender as pessoas que foram prejudicadas. Por enquanto estamos em situação de emergência e fazendo um diagnóstico social e distribuindo cestas básicas a quem estiver precisando. Além disso, iremos pagar o aluguel social de R$ 400 às famílias que não tiverem como voltar às suas casas. Essas pessoas serão as primeiras beneficiadas a receber as casa do programa Minha casa, minha vida que iremos entregar na cidade”, destacou o prefeito.