Pelo menos dez cidades do interior de Pernambuco relataram o risco de ficar sem oxigênio para tratar pacientes com Covid-19. De acordo com o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde, José Edson de Souza, esse municípios só tem estoque até esta sexta-feira (28). Ele disse que o consumo, nas cidade do Agreste, aumentou cerca de cinco vezes.
Ainda segundo o gestor, que é secretário de Saúde de Gravatá, no Agreste, enfrentam problemas com a distribuição de oxigênio as seguintes cidades:
- Pesqueira
- Sanharó
- Cupira
- Panelas
- Carpina
- São Bento do Una
- Taquaritinga do Norte
- João Alfredo
- Belo Jardim
- Lajedo
Em entrevista ao G1, nesta sexta, José Edson de Souza afirmou que, por causa desse problema, pacientes estão sendo transferidos para hospitais referência. “Porém, alguns já estão com superlotação e esses pacientes passaram a ocupar outros leitos de enfermaria normal”, declarou.
Até esta sexta, tinham informado transferência de pacientes por causa do risco de desabastecimento de oxigênio as prefeituras de João Alfredo e Lajedo.
No início da tarde, o Conselho de Secretários Municipais de Saúde informou que 250 cilindros de 10 metros cúbicos de oxigênio foram entregues em Pesqueira, no Agreste, para atender aos pacientes da cidade e municípios da região. O insumo foi fornecido por uma empresa da cidade de Simões Filho, na Bahia.
O presidente do conselho de secretários municipais afirmou, ainda, que a entidade está se mobilizando com o governo do estado “para que a situação seja amenizada”.
Ele também afirmou que o grupo de secretários municipais entrou em contato com as empresas as fornecedoras que têm sede em Pernambuco para que elas aumentem o número de veículos para transportar o oxigênio. “O problema é a quantidade de carros que é pequena não está dando vencimento”, disse.
José Edson afirmou, ainda, que os contratos para a entrega do insumo são feitos diretamente com as prefeituras. “Quando começamos a ter um aumento expressivo de casos, nos municiamos como fizemos para o pico anterior. No entanto, a demanda está três vezes maior do que o previsto na região. É o máximo que vimos até hoje”, afirmou o presidente.
O secretário disse também que “não é possível fazer previsões sobre o abastecimento de oxigênio no Agreste. “Tudo está completamente fora de qualquer previsão. Até porque existe a suspeita de que a variante indiana do coronavírus esteja por aqui”, afirmou.
Em Gravatá, informou José Edson, leitos de UTI foram abertos no Hospital Dr. Paulo da Veiga Pessoa. “No nosso caso, utilizamos um tanque semanal. Não temos parâmetro porque somente neste ano o município começou a ter demanda de oxigênio, depois da abertura de UTIs. Mas é bastante alta”, disse.
O que dizem as empresas
O G1 e a TV Globo procuraram a Messer Gases e a White Martins, duas das empresas que atuam na distribuição de gases hospitalares no estado.
Por meio de nota, a a White Martins informou que, dos municípios mencionados, “mantém contrato de fornecimento apenas com Belo Jardim, e que, neste município, “tem mantido o fornecimento regular de oxigênio medicinal na forma gasosa (em cilindros), mesmo com o aumento expressivo do consumo na região nos últimos 30 dias”.
A quantidade de cilindros local foi ampliada para 107 e a empresa afirmou que realiza visitas técnicas diárias na unidade de saúde local para monitoramento. “A companhia tem mantido contato frequente com a secretaria de saúde do município e realiza a entrega diária do produto”.
A White Martins também informou que, nesta sexta-feira (28), “participará de reunião com a prefeitura sobre logística de entrega de oxigênio ao município, onde será discutida a proposta de instalação de um tanque de oxigênio líquido em até 30 dias, para proporcionar maior segurança no abastecimento”.
Também em nota, a Messer Gases declarou que “tem acompanhado com atenção os dados referentes à evolução do consumo de gases em decorrência do cenário de pandemia”. Além disso, afirmou que, “nos últimos meses, houve, efetivamente, um significativo incremento na demanda de alguns gases, em especial de oxigênio medicinal”.
Ainda no texto, disse que “a empresa mantém equipes trabalhando em sua capacidade máxima de produção e distribuição de oxigênio medicinal nas diferentes regiões em que atua, a fim de atender da melhor maneira as demandas do mercado nesta situação emergencial e está se empenhando para garantir o abastecimento contínuo a todos os seus clientes medicinais em nível nacional com os quais já possui compromisso firmado”.
No comunicado, também contou que, “neste momento de demanda em níveis excepcionais, provocada pela pandemia, a Messer Gases está totalmente empenhada em garantir o abastecimento contínuo a todos os seus clientes”.
A empresa também relatou que “está ciente que exerce uma atividade essencial nesse momento e está comprometida em cumprir seu papel diante da nova realidade imposta à sociedade”.
O que diz o governo
Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde informou que 149 concentradores de oxigênio foram disponibilizados e estão sendo entregues para 44 cidades. Ainda segundo a nota, Lajedo não fez solicitação formal.
O estado disse também que “os serviços sob gestão estadual estão sendo abastecidos normalmente com gases medicinais” e que “não há risco de desabastecimento sistêmico de oxigênio em Pernambuco, que, inclusive, possui plantas industriais que são responsáveis pelo abastecimento do gás medicinal para outros estados do Nordeste”.
“É preciso informar ainda que, desde o início da semana, o governo de Pernambuco enviou ofício ao Ministério da Saúde solicitando apoio no enfrentamento da pandemia, com o encaminhamento de 500 concentradores e mil cilindros de oxigênio, além de testes de antígeno e reforço na investigação genômica no estado. Contudo, até o momento, não há retorno da solicitação por parte do governo federal”, afirmou.
Ministério Público
Diante das informações sobre falta de oxigênio em cidades do interior, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) informou, por meio de nota, que recebeu na noite de quinta (27) um ofício da Secretaria Estadual de Saúde.
Nesse comunicado, disse o MPPE, havia informações sobre as queixas de municípios pernambucanos quanto à dificuldade no fornecimento do oxigênio para uso hospitalar”.
Na nota, o Ministério Público afirmou também que “precisa de dados concretos sobre possíveis gargalos na relação entre as fabricantes do oxigênio, representantes comerciais e as gestões municipais”. O MPPE disse, ainda, que esses dados “foram recebidos ontem e estão sendo analisados”.
Por fim, o comunicado do MPPE afirmou que os promotores “estão acompanhando o trabalho das autoridades sanitárias para monitorar os percentuais de ocupação de leitos e o abastecimento de insumos, como o oxigênio, kits intubação e demais equipamentos de proteção para pacientes e profissionais de saúde”.
Informações: G1PE