COMO ESQUECER DE SERTÂNIA?

Por Aníbal Alves Nunes

Muitas vezes me ponho a pensar nos anos que vivi em minha terra natal que por falta de trabalho e de oportunidades para os seus filhos, obrigou muitos deles a enveredar por caminhos diferentes e distantes, a conquistar outros horizontes.Mas, também imagino: como esquecer de um lugar tão simples, de um povo bom e hospitaleiro, de gente acolhedora, de fácil relacionamento e de simpatia e apreço? 

Como esquecer as coisas tradicionais, festas, passeios, piqueniques, banhos no rio Moxotó, no Açude do Governo, na Barragem do Seis, nos Poços de Seba, as antigas escolas Vila Operária de dona Hélia e a de dona Alzira na Rua de Monteiro? Como não lembrar da estação com seus trens de carga e de passageiros que descia de Recife para Salgueiro, passando em Sertânia, às 11 e subindo para a capital pernambucana às 14 horas?

Como esquecer o Abrigo de Menores fundado pelo juíz Dr. Aloísio, as fábricas de seu Pinheiro: de caroá no Alto do Rio Branco e a desfibradora de algodão no centro, o Cine Emoir com seu Olavo na portaria, a fubica de Mizael, o DKW de Duca, a camionete laranja de Manoel Alves, o Aero Willys de Dr. Raul, o caminhão Chevrolet 68 de Vitorino, a Rural de Demétrio, a Variant verde de dona Gracinha, o Jeep de Ercílio, as farmácias de seu Queiroz, Antônio Rodrigues, José Bonal e as receitas caseiras de Chico Café, a simpatia de Ercília dos Correios, Lula Barbeiro em sua impecável e bem engomada, roupa de linho, os blocos carnavalescos: da Ema, Bola Sete e Guardanapo do América, a Sorveteria Cristal dos meus padrinhos Aníbal Veras e Consuelo, o armarinho de Ana Filgueiras, a loja de tecidos de Adolfo, Zezinho da Casa dos Retalhos, Alcindo dos Calçados, o Posto de Ercílio Teixeira, a bodega de seu Estendes no Alto de Afogados? 

Como esquecer Monsenhor Urbano de Carvalho na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e Padre Cristiano Jacobs na igreja do Sagrado Coração de Jesus?

Como não lembrar dos meus avós paternos José Alves de Holanda e Quitéria Alves Freire e dos tios Sebastião, Viturino, Expedito, Manoel e Socorro? Como não lembrar de Burra Cega, Carocha, Pedro Brasil, Luiz Doido, Vaca Véa, Estrelinha, Maria Porrinha?

Como esquecer de José Sula lavando e engomando ternos e chapéus, Luiz e Manoel Fogueteiro os maiores produtores de fogos de artifício da região, Jorge Pires da Mercearia São Jorge, seu irmão João Pires de Carvalho da Casa Império, Chicão do Armazém de cereais, Genival Farias da Mercearia e Antônio Farias da Bodega, Nelson do Bar? 

Como esquecer dona Severina de Zuza Capitão, mãe de Ciba, Aníbal, Auristo, Teca, Nelson Rufino… “os Capitães” residente no alto da ladeira da Rua do Juá com a Rua Velha, o Colégio das Freiras, a Escola Artesanal que virou Ginásio Industrial Amaro Lafayette, o Ginásio Olavo Bilac, o Grupo Escolar Jorge de Menezes, a Escola de Dona Cila de Demétrio, o Colégio das Freiras, o Grupo Velho da Pedra Grande, Cazuza Ferreira da mercearia, José Inaldo com sua voz de ouro nos cânticos das missas na matriz e as serestas de seu primo Roberto Fogueteiro? 

Como haveríamos de esquecer Manoel Gazeteiro, Maria Jornaleira, Sr. Júlio da Bodega, Etelvina do Alto do Rio Branco, o eletricista Mané Ceroulão, Luiz Barbeiro, Demétrio, seu irmão Francisquinho da Orquestra Marajoara promovendo eventos por todo o Nordeste?

Não temos como esquecer Dr. Raul Torres Lafayette, as padarias de Ziro, seu Américo e Duca da Panificadora, os prefeitos João do Vale e Arlindo Ferreira, Mundico Laet Cavalcante e sua Rural, os professores Valdemar Cordeiro, Charuto, Raimundo Góes, Amara, Teca Rufino, Adilson Freire, Gilva Fernandes, Wilson Checão, Walter Silva, Maurício? 

Como não lembrar dos carnavais do América, as matinês do Cine Emoir, os circos atrás da prefeitura e na Pedra Grande, do Hotel Continental, Hotel Central, os postos de Edite Lacerda e Ercílio Teixeira, a loja de Sebastião da Silva, Sorveteria de Pestana, Duca de dona Suzana e os filhos, Lucy, Eurly, Zaninha e Manoel Barros de Freitas? 

Como esquecer Paulo do Leite, Manoel Rodrigues dos Arreios, pai de Geraldo e Nita, Pedoca dos Chocalhos, Cícero “Ferreiro” e os filhos José e Antônio, Horácio do quebra-queixo, Dunda, Bala e Biuzinha do cachorro quente na estação ferroviária, Maria do Pastel na praça do cinema. Como não lembrar de seu Deja e dona Jasmelinda da banca de legumes e verduras na feira, Erotides da Pipoca, Olindina dos Bolos, Camuchinho e seu João Ramos dos fotos? Como esquecer os irmãos telegrafistas e ferroviários Agamenon, Arcilon, Anderson, Gonzaga Patriota, Manoel foguista e Zé Bombeiro da Estação?

Maria Spinelli parteira e Maria Calado enfermeira, Dr. Natalício, Dr. Airton, Dr. Horácio e outros anjos do hospital?

Pode até ser fácil para muitos deixar que as lembranças caiam na vala do esquecimento porém, para quem sempre manteve acesa a luz da lembrança, é praticamente impossível esquecer tantos detalhes interessantes e tantos personagens que marcaram a história de Sertânia.

A antiga Alagoa de Baixo do fazendeiro Antão Alves de Souza e sua esposa Catarina. Homem que doou praticamente suas terras para que famílias pobres e pequenos agricultores conseguissem tirar da terra o seu próprio sustento. Doou ainda, as terras da Alagoa de Cima, para a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, casa paroquial, escola agrícola e hortas comunitárias.