Em obra revisada, Gaspari revela que Kennedy discutiu ação militar para tirar Jango do poder

Estreou nesta segunda-feira (6) o site “Arquivos da Ditadura”, com documentos sobre o período reunidos ao longo de décadas pelo jornalista Elio Gaspari, colunista da Folha.

O site, elaborado pela editora Intrínseca, que a partir de fevereiro relançará os quatro livros que Gaspari escreveu sobre um dos períodos mais turbulentos do país, estreou com uma revelação sobre a partição do presidente americano John Kennedy (1917-63) no golpe de 1964.

Quarenta e seis dias antes de assassinado no Texas, em novembro de 1963, Kennedy indagou em reunião na Casa Branca se os Estados Unidos poderiam “intervir militarmente” no Brasil para depor o então presidente João Goulart (1919-1976).

A pergunta do então presidente norte-americano revela que os EUA cogitaram uma ação armada no país para ajudar os golpistas contra Goulart, e não somente auxílio logístico, como acabou ocorrendo. No final das contas, bastou o apoio diplomático dos EUA para o sucesso do golpe de Estado no Brasil.

O site será atualizado semanalmente. A partir de fevereiro, com o relançamento dos livros, a página disponibilizará novos textos e documentos escolhidos pelo autor.

Entre bilhetes, despachos, discursos e manuscritos de conversas dos principais personagens da ditadura, Gaspari reuniu nos últimos 30 anos documentos que serviram de base para os quatro livros que escreveu até agora sobre o período – “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Derrotada”, e “A Ditadura Encurralada”.

Na reedição dos livros haverá também uma versão e-book, com vídeos, áudios e documentos. Uma parte desse material também estará no site. É a primeira vez que esses documentos são disponibilizados para consulta na internet.

MANDATO DE JANGO

Na presença dos três chefes das Forças Armadas e da presidente Dilma Rousseff, o Congresso Nacional devolveu, simbolicamente, no dia 18 de dezembro de 2013, o mandato do ex-presidente João Goulart. O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), fez um pedido de desculpas “pelas inverdades praticadas pelo Estado brasileiro” contra um “patriota”.

A cerimônia oficializa decisão tomada no em novembro do ano passado por deputados e senadores que anulou a sessão de 2 de abril de 1964 do Congresso. Na ocasião, o então presidente do Congresso Nacional declarou vaga a Presidência da República –Goulart foi deposto pelo golpe militar de 1964. O argumento usado na ocasião foi de que o então presidente estava fora do país.

A proposta de devolver o mandato foi apresentada pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Simon (PMDB-RS). No pedido, os congressistas afirmaram que a anulação faz um “resgate histórico” porque a vacância permitiu o golpe militar de 1964, embora Jango estivesse em Porto Alegre (RS). A ideia, de acordo com os parlamentares, seria retirar qualquer “ar de legalidade” do golpe militar de 1964.

RESTOS MORTAIS

Em novembro do ano passado, os restos mortais do ex-presidente foram exumados e levados a Brasília para perícias e homenagens. Amostras coletadas na capital federal serão analisadas em laboratórios fora do país.

O objetivo é apurar a causa da morte de Jango, como ele era conhecido. Na época, foi divulgado que ele morreu devido a um infarto, mas familiares e o governo federal suspeitam que ele tenha sido envenenando por agentes ligados à ditadura militar (1964-85).

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