O segundo turno das eleições para governador de Pernambuco será disputado pelas candidatas Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB). Esta é a primeira vez na história que uma mulher chega ao segundo turno das eleições estaduais. Com isso, Pernambuco terá, pela primeira vez, uma governadora eleita.
Marília e Raquel disputam pela primeira vez o Executivo estadual, que há 16 anos é governado pelo PSB, nas gestões de Eduardo Campos, por duas vezes, e de Paulo Câmara, por mais duas.
Primeira governadora mulher
No dia 30 de outubro, Pernambuco conhecerá a primeira governadora eleita da história. Uma mulher já ocupou o cargo: a atual vice-governadora Luciana Santos (PCdoB), durante as gestões de Paulo Câmara (PSB), entre 2015 e 2022. Mas ela assumiu o executivo apenas temporariamente, em algumas ocasiões, como em 2019 e 2021.
Em toda a história, apenas sete mulheres disputaram o governo de Pernambuco. Na atual disputa, o PSTU também teve uma postulante, Cláudia Ribeiro.
A que obteve a maior votação, até então, foi Dani Portela (PSOL), em 2018. Ela teve 188.087 votos, equivalente a 4,97% dos votos válidos. Antes, Kátia Telles (PSTU) teve 8.718 (0,21%), em 2006; Ana Lins Gomes (PSTU) teve 6.547 (0,19%), em 2002; e Maria Lucia Marques (PSC) teve 29.683 (1,05%), em 1998.
Segundo turno pela segunda vez
Esta é a segunda vez na história do estado que haverá segundo turno na disputa pelo governo. A primeira foi em 2006, entre o ex-governador Eduardo Campos (PSB), que morreu em 2014 em um acidente aéreo, e Mendonça Filho, que era do PFL, partido que se tornou o DEM e, depois, o União Brasil.
Naquela eleição, Eduardo começou o primeiro turno em terceiro lugar, atrás de Humberto Costa (PT), atualmente senador, e de Mendonça Filho, que era o governador do estado. Campos venceu Mendonça no segundo turno e depois foi reeleito, em 2010.
Trajetória política das candidatas
Marília Arraes
Recifense, Marília Arraes tem 38 anos e é deputada federal. É advogada, foi vereadora da capital pernambucana por três mandatos e está no terceiro partido de sua carreira política.
Ela é mãe de Maria Isabel, de 7 anos, e de Maria Bárbara, de oito meses. Está grávida de outra menina, que vai se chamar Maria Magdalena, mesmo nome de Magdalena Arraes, viúva do ex-governador e avô de Marília, Miguel Arraes.
Marília começou a carreira política no PSB, legenda à qual se filiou em 2005, ano da morte do avô Miguel Arraes, que presidiu o partido. Foi pelo PSB que ela se elegeu vereadora do Recife pela primeira vez, em 2008. Se manteve no mesmo partido até 2016, ano em que se filiou ao PT.
Em 2014, ainda no PSB, Marília Arraes apoiou a candidatura à presidência da República de Dilma Rousseff (PT), em detrimento da candidatura à presidência do primo Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco.
Em seus dois últimos anos no PSB, entre 2014 e 2016, Marília Arraes discordou de posições e orientações do partido.
O desgaste piorou ao longo dos anos e, em 2016, culminou na desfiliação da então vereadora do PSB. Em uma carta publicada nas redes sociais, na época, ela relatou ter sido vítima de ofensas desde 2014 e acusou o partido de não ter democracia interna.
A candidatura de Marília Arraes ao governo é cogitada desde 2018, quando ela ainda era filiada ao PT. No entanto, a possibilidade, mesmo tendo sido aprovada pelo diretório estadual da legenda, foi limada pelo Partido dos Trabalhadores em prol do apoio à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB).
Marília se candidatou a prefeita do Recife em 2020, sendo derrotada por seu primo, João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos. A campanha deixou rusgas na relação de Marília com o PT.
Para as eleições de 2022, o nome dela era novamente cogitado, e apoiado pela militância do partido. O PT, no entanto, fechou apoio ao PSB, em nome da aliança nacional que lançou o nome de Geraldo Alckmin (PSB) na chapa com Lula.
Diante disso, Marília Arraes passou a se movimentar para sair do partido. Houve, então, uma reunião do Grupo Tático Eleitoral do PT, que, sem que ela estivesse presente, anunciou o nome dela ao Senado. Ela respondeu com uma postagem nas redes sociais, em que disse ter o nome utilizado como “massa de manobra”.
Poucos dias depois, a candidata deixou o PT e se filiou ao Solidariedade. A ata de filiação foi abonada pelo presidente nacional da legenda, deputado federal Paulinho da Força. No mesmo dia, Marília Arraes tornou-se presidente do partido e anunciou a pré-candidatura.
Raquel Lyra
Raquel Lyra nasceu no Recife, tem 43 anos e foi prefeita de Caruaru, no Agreste, por dois mandatos consecutivos. Renunciou ao cargo em março deste ano, para concorrer ao governo. Entre 2007 e 2016, foi filiada ao PSB e, em 2016, se filiou ao PSDB, partido do qual faz parte atualmente.
Ela é mãe de João, de 12 anos, e de Fernando, de 10 anos. O mais velho tem o mesmo nome do pai de Raquel, João Lyra Neto (PSDB), que foi vice-governador de Eduardo Campos e assumiu o governo em 2014, quando Campos deixou o cargo para concorrer à Presidência.
Raquel era casada com o empresário Fernando Lucena, que morreu na manhã deste domingo. Ele estava em casa, em Caruaru, no Agreste, quando se sentiu mal. Chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu.
Raquel Lyra é advogada formada pela UFPE. Já foi advogada do Banco do Nordeste e, em 2002, assumiu o cargo de delegada da Polícia Federal, onde permaneceu até 2005. Ela renunciou ao cargo após passar no concurso para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
Durante a gestão de Eduardo Campos, foi chefe da Procuradoria de Apoio Jurídico e Legislativo do governo, entre 2007 e 2010. Foi eleita deputada estadual em 2010, mas licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria da Criança e da Juventude no segundo mandato de Eduardo Campos. Em 2014, foi reeleita deputada estadual.
Em 2016, foi eleita em primeiro turno a primeira mulher prefeita de Caruaru, sendo reeleita em 2020.