Um policial que participou da operação em Milagres, no Ceará, afirma que os pms não chegaram atirando “a esmo” na cidade e que os policiais foram recebidos a tiros. Na operação,14 pessoas morreram, seis delas reféns, sendo cinco pernambucanos da mesma família. O profissional conversou com exclusividade com O POVO Online, com a condição de não ser identificado. Ele relatou que os corpos dos reféns foram encontrados empilhados, quando os policiais chegaram ao local.
“Em momento algum sabíamos que havia reféns. Não houve escudo humano. Não foram visualizados (os reféns)na frente do banco ou houve qualquer sinal dos bandidos para avisar que estavam com reféns. Nós não saímos atirando contra os carros. Nós trocamos tiros com os bandidos na cidade”, relatou.
Ele disse que um atirador da polícia estava presente na operação e, com a luneta, não teria visualizado os reféns, mas apenas pessoas de balaclava e coletes. Os reféns, segundo a fonte,foram encontrados aglomerados no chão, já mortos. Ele disse que eles não entendem o motivo.
Segundo o policial, a atitude dos criminosos foi atípica, porque reféns, normalmente, são deixados em frente aos bancos ou usados na fuga. Não foi assim que agiram, conforme o relato, os criminosos em Milagres.
Distribuição dos policiais
A fonte relatou que o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) possuía informação de que aconteceria um ataque a banco na região. Havia grupos de policiais espalhados. Em três carros, 12 agentes seguiram até Brejo Santo – cidade vizinha a Milagres -, pois um gram poque identificava o sinal do celular de um dos olheiros integrantes da quadrilha apontava que os criminosos iriam para a Cidade. Mas não havia movimentação em Brejo Santo. Então, eles seguiram para Milagres.
De acordo com a fonte, chegando a Milagres, os policiais do Gate foram recebidos a tiros e iniciaram um trabalho chamado de “progressão” – avanço no local para identificar a situação, durante a troca de tiros. Os PMs constataram que os criminosos já haviam destruído as vidraças das agências bancárias e colocado alguns explosivos.
Fumaça saía de uma das agências.Parecia até que já havia acontecido explosão. Mas, posteriormente foi informado que a fumaça era de um dispositivo de segurança da própria agência.
Corpos empilhados e reféns encontrados com vida
Conforme iam progredindo, os policiais perceberam duas pessoas no chão. Elas não estavam “caracterizadas como os assaltantes” – não usavam balaclavas ou coletes balísticos. A dupla foi orientada a permanecer no local, deitada. “Na medida em que nos aproximamos,visualizamos cinco corpos, todos amontoados, uns em cima dos outros e no chão”,detalha o agente.
As três equipes se encontraram neste ponto e todos perceberam que os mortos não tinham características dos criminosos – também não tinham balaclavas ou coletes, como a dupla encontrada com vida instantes antes. “Ainda foi possível ver alguns homens recolhendo armas e correndo”, relata.
Os policiais encontraram um dos criminosos feridos durante o tiroteio. Quando tentavam socorrer o homem, os PMs voltaram a falar com os dois reféns encontrados com vida, abordados anteriormente. As vítimas relataram que os assaltantes os surpreenderam na BR-116 e seguiram com eles até as agências de Milagres. Segundo os dois, os criminosos entraram e saíram de Milagres aproximadamente três vezes, levando os reféns. Iam ao bloqueio e voltavam ao local dos bancos.
Apoio e comando
Durante a ocorrência, policiais do Comando Tático Rural (Cotar) foram acionados para dar apoio ao Gate. No entanto, se depararam com o caminhão que tinha sido deixado obstruindo a BR-116. Quem estava no comando da operação no local era o próprio comandante do Gate, Antônio Cavalcante. O tenente-coronel Cicero Henrique, comandante do Batalhão de Choque, estava em cidade próxima.
A fonte relata anda que a quantidade de tiros no veículo encontrado no local não é compatível com os disparos que atingiram as vítimas. Conforme apuração inicial da Perícia, foram constatadas duas perfurações a bala na Ranger, na parte superior do vidro traseiro.Não havia vestígios de sangue no interior do veículo.
Para o PM, os agentes do Gate estão sendo julgados por pessoas que não acompanharam a ocorrência. Para ele,por terem sido recebidos a tiros, a progressão era a única alternativa possível para os policiais. “Não chegamos atirando a esmo”, frisa. O policial diz que apressão que o Gate vem sofrendo é grande e pede uma apuração antes de julgamentos que ele considera precipitados.
Com informações do Jornal O Povo para a Rede Nordeste