Dela, quase tudo já foi dito, mas no amanhã que virá muito ainda se falará. Daqui em diante é preciso reconhecer a verdade de Dostoiévski “Não basta viver é preciso razão para viver.” Essa razão, que eu prefiro chamar de razões, passa pela necessidade imediata de não deixar solidificar-se o sentimento de orfandade do povo, principalmente o pernambucano, já que tanto para a vida política como para a espiritual, existe o sentimento de que “a multidão precisa de alguém no alto a lhe guiar”.
Outra razão que aflora é a de reconhecer e valorizar a imortalidade das ideias. O homem se vai mas suas ideias ficam. Eduardo Campos foi violentamente arrancado da vida, mas sua forma de pensar ficará por aqui, nas nossas cabeças, esperando pela nossa luta para viabilizá-las.
Enquanto a luta não recomeça, pois ainda choramos por dentro (como eu) ou por fora, como tantos, valho-me de algumas reminiscências. Início dos anos noventa, tarde da noite, quando ouvi o chamado: Zé Ivan! É Adilson Gomes. Preciso da sua ajuda. Sai na porta e lá estavam: Adilsom Gomes, assessor do governador Miguel Arraes, seu motorista e Eduardo Campos, naquela época Dep. Estadual. Pediram que eu lhes indicasse como conseguir um pouco de álcool combustível para que chegassem pelo menos até Cruzeiro do Nordeste. Eles estavam voltando do Pajeú. Recorri, tarde da noite a companheiros do PMDB, como Chico de Nestor, Luciano Teixeira e Cirilo, mas nenhum deles usava esse combustível. A solução proposta humildemente pelo motorista foi que eu cedesse um pouco da gasolina do meu carro que misturado ao resto de álcool lhe serviria. Assim o fizemos e eles seguiram num Fiat comum, ao encontro dos seus destinos. Essa reminiscência para mim tem resquícios de humildade na função e na fórmula
Também me lembro das três vezes que nos falamos no último semestre. Em Gravatá, vendo eu me aproximar para entregar um documento com Angelo e nossos vereadores, ele foi logo dizendo: Ivan, vai dar certo! Estava se referindo a sua candidatura a presidente. Semanas depois em Arcoverde a cena se repetiu: em alto e bom som: Ivan, eu acredito! Respondi para ele que eu também. E estava sendo sincero. Da última vez, numa noite fria e chuvosa em Afogado da Ingazeira, ao me ver novamente com Ângelo e Fabiano, ele disse: está tudo indo bem!
Acredito que vendo minha cara de preocupação ele quis animar-me, e nisso ele também era excepcional. Confiante ao extremo, determinado, otimista e animado.
E agora José, além de chorar por dentro, o que fazer. Agarro-me além de Dostoiévski com o poeta Fernando Pessoa. Foi ele que disse: … navegar é preciso.
Mesmo nossos rios não tendo água, precisamos navegar na vida, na resistência e na esperança do nosso povo.
Dudu (nunca o tratei assim)! Obrigado por tudo. Fique certo que a luta vai continuar, pois ela também ajuda a dar sentido à nossas vida. Saudações alvirrubras.
Por Professor Ivan de Lima