Meira disse que o prazo de conclusão para dezembro de 2015 é “factível e real”, mas admite que pode haver mais atrasos.
“Vamos dizer que a gente tenha um nível de chuva, como que a gente teve neste ano, no próximo ano. Se a gente mantiver, certamente compromete o ritmo da obra”, disse.
Questionado se as obras poderiam então se arrastar para 2016, reconheceu o risco.
“Pode acontecer, mas num intervalo pequeno de um, dois ou três meses, não mais do que isso. Mas infelizmente pode acontecer”, afirmou.
Meira vive no Recife, mas passa a maior parte do tempo no sertão vistoriando as obras. Ele defende o cronograma da transposição e diz que as imagens frequentemente publicadas na imprensa, mostrando canais supostamente abandonados, não condizem com a realidade das metas de execução, que o governo diz estarem dentro do previsto.
“Nós temos várias empresas operando em vários lotes. É normal ter essas lacunas, esses espaços que não foram ainda concluídos entre esses lotes. Mas em algum momento essas obras se encontram”, diz.
Lançada em 2007, as obras da tranposição devem levar água a 12 milhões de nordestinos, segundo as previsões oficiais. O primeiro prazo dado pelo governo foi ousado – 2010.
Mas os obstáculos encontrados pelo caminho acabaram atrasando as obras e mostraram que transpor o sertão era uma empreitada muito mais complexa do que se previa.
Na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, o pesquisador João Suassuna, um dos críticos mais ácidos da transposição, diz que “os atrasos mostram falta de planejamento do governo”.
“Havia outras opções mais baratas à transposição. Mas nesse momento eu só posso torcer pelo sucesso da transposição, depois de tantos bilhões gastos”, diz.
A previsão de custo inicial era de R$ 4,8 bilhões. Quando for concluída, a transposição terá custado aos cofres públicos mais de R$ 8 bilhões.
‘A água não faltará’
BBC Brasil percorreu centenas de quilômetros de canais no Sertão
Maior obra de infraestrutura hídrica do país, a transposição do São Francisco é uma obra chave para o governo, que refuta críticas de que a água pode ir parar em grandes fazendas, beneficiando o agronegócio.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, a prioridade é o consumo humano e animal.
A água está programada para chegar a 23 açudes e 27 reservatórios e vai, ainda, abastecer rios que hoje ficam secos em boa parte do ano. O objetivo é garantir a segurança hídrica do semiárido, com represas cheias mesmo em tempo de seca.
Durante a reportagem, a BBC Brasil acompanhou uma vistoria das obras por parte da presidente Dilma Rousseff em Jati, no sul do Ceará.
Falando a uma plateia formada por boa parte dos apenas 7 mil habitantes do pequeno município, Dilma prometeu que aquele seria “um lugar onde a água não faltará”.
Obra subestimada
Em conversa com a imprensa, Dilma admitiu que o governo era “inexperiente” com obras desse gênero e dessa magnitude, ao prometer a entrega em apenas três anos, em 2007.
“Houve uma subestimação da obra. Eu não acredito que uma obra dessas em outro lugar no mundo leve dois anos para ser feita”, disse em conversa com a imprensa.
Enquanto a água não chega, o sentimento entre os sertanejos é de esperança. Francisco Gonçalves, conhecido como “Seu Panda”, era um dos presentes no ato em Jati.
De sua varanda, ele vê as obras da transposição. Aos 74, com sete dos 15 filhos vivendo em São Paulo, onde já foi retirante, Panda espera que a água chegue rápido.
“Antes a gente tinha dificuldade de ter água para beber”, diz Panda, que quer utilizar a água “de imediato”, aposentando a cisterna que mantém ao lado da casa.
Em conversas nas ruas de Jati, a ansiedade era outra. Hoje, a transposição é uma das maiores empregadoras do município. Para alguns comerciantes, o temor é que os empregos desapareçam assim que as obras forem concluídas para a água chegar às torneiras da cidade.