Além do soldo, que é o salário recebido pelas Forças Armadas, muitos militares foram contemplados em abril com um outro benefício: o auxílio emergencial para o novo coronavírus. Mesmo desobedecendo vários critérios, 73 mil militares – um quinto de todos os homens e mulheres das Forças Armadas – tiveram o benefício criado pelo Governo Federal para ajudar trabalhadores informais e quem ficou sem renda por causa da pandemia depositado na conta.
Para ter direito, é preciso obedecer a alguns critérios – entre eles, ser maior de idade, ter renda de até três salários mínimos na família, não ter emprego formal e nem receber o seguro-desemprego. Além disso não pode ser militar ou receber dinheiro do governo em salário ou benefícios como a aposentadoria.
Há um mês, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou que todos devolvessem. Mas até agora, 28 mil não atenderam à essa ordem – com isso, R$ 17 milhões que ajudariam os brasileiros mais pobres continuam depositados nas contas dos militares.
A lista obtida pela CNN foi o resultado de um cruzamento entre a relação de funcionários do Governo Federal e de pessoas que tiveram o auxílio aprovado, entre eles 79 militares de alta patente, como tenentes e aspirantes a oficiais. O salário mediano dessas pessoas é de R$ 16 mil, ou seja, eles não precisariam dos R$ 600 do auxílio. Todos os dados obtidos pela reportagem são públicos.
O Ministério da Defesa, que responde pelas Forças Armadas, reconheceu que metade de todo o valor repassado a militares ainda não foi devolvido, mas disse que quem não devolver terá o valor descontado do próximo salário.
O Ministério Público Federal investiga o caso. O procurador Marcelo Ribeiro de Oliveira disse que analisa os locais onde os saques foram feitos para tentar identificar fraudes. No caso dos militares, eles já descobriram que os casos se separam em dois grupos: os que pediram o auxílio e os que tiveram o dinheiro automaticamente transferido para a conta.